Ela, nós.

Lembro de ter lido uma matéria de jornal, a matéria em questão falava de uma possível copia que fariam de uma consciência humana e colocariam em um computador [isso daqui 50 anos a previsão] o ponto era a eternidade, ou seja a consciência no computador seria a continuação do “consciente” vivo após seu falecimento orgânico. Isso com certeza me levantou várias questões a respeito, e pensei no filme do diretor e roteirista Nolan Transcendence, que traz esse mesmo tema. A meu ver a consciência humana no computador seria apenas um simulacro de uma consciência, nele teria tudo que um humano pode perceber, mas somente para o interlocutor, para quem vê e ou ouve a consciência ali, “viva”, em outras palavras seria uma sequência binária que pensa, mas não sente, o que me levou a pensar nisso novamente foi o filme Her, porém com mais profundidade.

HER

Her tem uma roupagem nova para um tema muito já antes abordado na sétima arte, posso citar alguns como: I.A Inteligência Artificialde Spielberg, o inigualável Sci-fi, Blade Runner, o Blockbuster Eu, Robô, dentre vários outros títulos, que tratam da questão I.A (Inteligência Artificial), cada qual de sua maneira, mas o ponto em questão em Heré de longe mais sensível, “mais humano”.


Ao passo que o filme se desenvolve vemos uma sociedade “perfeita”, ou pelo menos se percebe isso, não notei também castas, como um “paraíso” num futuro próximo, e nesse contexto vemos o personagem principal Theodore (
Joaquin Phoenix)
, em sua vida solitária após o termino de uma relação duradoura com Catherine (Rooney Mara), que se definhou com o tempo tal relação, e como todos no filme, uma alta dependência tecnológica [não distante da nossa realidade atual]. Nesse grau emocional que se encontra Theodore, vê um escape em um novo S.O (Sistema Operacional), esse sistema é como disse no começo do texto, possui I.A, essa alta dependência tecnológica que Theodore tem, se sobressai com esse novo S.O, que auto nomeia: Samantha (Scarlett Johansson), com a qual acaba por começar uma relação profunda. A relação só aumenta conforme o tempo passa, as memórias de sua ex, de certa forma são substituídas por esse excêntrico romance com alguém que supostamente é um humano, o que é pode ser encarado como ora engraçado, ora inquietante.

Her nos mostra,em qual grau e quais consequências essa dependência tecnológica pode nos trazer, pois as relações humanas se diferenciam, não que seja para o bem ou para mal, apenas torna-se outra, e novas questões aparecem conforme essas relações se transformam, como pode ser notado, uma relação insólita entre um Theodore e Samantha se tornou possível, como em uma amplificação de hoje, o longa Her, sinaliza o que nos espera em um futuro próximo, de ainda se apaixonar pela própria identidade, como o personagem Robinson Crusoé que de todo modo quer se encontrar, mas está sozinho numa ilha, e conforme o tempo passa, a alteridade que lhe faltava acaba sendo a ilha o encontro de si, como Sartre diria, no outro eu vejo a mim, no outro me identifico, Samantha para Theodore, foi esse outro, sua dependência.

 

Por fim essa necessidade de alta tecnologia só aumenta e se transforma com o passar tempo, junto com a inevitabilidade do outro, e a identidade que criamos conforme o outro, talvez esse ponto que o filme traz seja apenas uma etapa da nossa transformação como um ser dependente da tecnologia e do conforto em que estamos cada vez mais envoltos, o que não podemos e notamos que não perderemos é o que nos faz humanos: os sentimentos, isso é inerente do humano.

Imagem


aonde quer que eu vá

quem pudera ser rei
e dizer que no começo já cansei

noites frias sem ti
noite quentes sem ti

de certo meu mundo é melhor, venha?
talvez te engane pois esse é o pior dos mundos
talvez com você aqui mude, quem sabe…

posso ser uma ilusão se quiser
tudo por um pouco de atenção se couber

a tua e a minha embriaguez é que fazem o mundo
te espero talvez…

em busca

     sem sentido

 

                                                       pareço ter ido

 como jazido, perdido

                                                   florido.

Beksinski

Vendo algumas pinturas do gênio pintor Zdzislaw Beksinski, escrevi esse “pseudopoema”.

Imagem

uma frieza que passada
uma dor que é sentida

um senso que se mostra
algo que conduz
nunca demonstra nada de luz

temo que o sol apagará amanhã
o frio retornará

o nada irá reinar novamente
corpo que queima com dores
cessarão sua miséria sentida

todas as mazelas não serão mais
aqui não será atribuído
o mundo falecerá mais uma vez.

Fernando Durães

legião do amor.

–  De tarde quero descansar – ela disse com ar de inquietude.
–  Ainda é cedo, quero colo – explicitei.
–  Quero me encontrar, mas não sei onde estou – Mônica estava louca agora essas – pensei!
–  Há tempos, meu amor, somos tão jovens – lhe confortei.
–  Festa estranha com gente esquisita – ela insistia.
–  E eu dizia: ainda é cedo.
–  Estou com medo…
–  Não me entrego sem lutar – pensei – será só imaginação? – é uma dor que dói no peito, pode [r]ir agora – disse entristecido.
–  Existe razão nas coisas feitas pelo coração? – ela perguntou.
–  E quem irá dizer que não existe razão? Indaguei de volta. Ela então sorriu pra mim… Um rosto lindo como o verão, e um beijo aconteceu.

Montagem: Fernando Durães

Poesia dá vida.

Imagem

 

 

Estava eu por acaso assistindo a um documentário, no canal Arte1, falava sobre a vida e obra de Katsushika Hokusai (1760-1849), foi um artista nipônico, pintor e gravurista, confesso que até então não o conhecia, o documentário* também estava lá pela metade, o que me desinteressou em continuar a assistir, suas pinturas são de uma sutileza enorme, e também de um estilo original, dei por mim que já havia visto alguma de suas obras por ai.

 

O que me chamou a atenção, foi o relato do próprio pintor de como ele descrevia a natureza, ou tentava contemplar, e assim, como um observador, descobrir os segredos que a mesma tem e transpor para suas pinturas de um modo único. Esse relato, no momento que ouvi, não percebi o quanto era de tal importância, não sei se era o meio que estava ouvindo, já que era pela t.v, onde não dou tanta atenção quanto eu poderia. Esse relato novamente a mim, dessa vez em um livro**, do Filósofo e Poeta Brasileiro Antônio Cicero (1945-), nesse livro o filósofo faz um ensaio entre a Poesia e Filosofia, com maestria ele relata as similitudes e outrora as diferenças.

Retornando ao ponto compartilho o relato que felizmente veio aos meus sentidos novamente:

 

Desde os seis anos, tenho mania de desenhar as formas das coisas. Aos cinquenta anos, eu tinha publicado uma infinidade de desenhos, mas nada do que fiz antes dos setenta anos vale a pena. Foi aos setenta e três que compreendi mais ou menos a estrutura da verdadeira natureza dos animais, das árvores, das plantas, dos pássaros, dos peixes e dos insetos.

Consequentemente, quando eu tiver oitenta anos, terei progredido ainda mais; aos noventa, penetrarei no mistério das coisas. Com cem anos, serei um artista maravilhoso. E quando eu tiver cento e dez, tudo o que eu criar: um ponto uma linha, tudo será vivo. Peço aos que viverem tanto quanto eu que vejam como cumpro minha palavra.”

 (Escrito na idade de setenta e cinco anos por mim, outrora Houkusai, hoje Gwakio Rojin, o velho louco pelo desenho.)”***

Aos poucos vemos que o artista vira sua própria arte com o tempo, o mesmo que o Filósofo Antônio Cícero diz sobre o poeta, argumentando com ajuda de um poema**** do poeta e escritor Drummond (1902 – 1987):

 

[…]- a vida do poeta – é o rascunho da poesia. Isso significa que o fim da vida do poeta é virar poesia.

 

 

 

 

 

 

 

 

*Retrato de um gênio – Katsushika Hokusai, 2003

**Poesia e Filosofia, Antônio Cícero, 2012.

***Poesia e Filosofia, Antônio Cícero, 2012; pag.17

****A Vida Passada A limpo, Carlos Drummond.

 

 

 

 

 

 

 

preso no espaço que ocupo

                  tempo

 

solto no mundo vazio

                             cheio

distante de tudo e de mim

                                       principalmente

 

pensamento embolado

       ato          racional

 

 

equiparado a um zé ninguém

                                é o que sou

deslocado e me pergunto

                                                onde estou?

 

 

Fernando

             Durães.